As escolas do município de Luanda precisam de pelo menos 20.000 carteiras face às necessidades já identificadas, com as autoridades a lamentarem a situação de carência em que milhares de alunos estudam, mas que atribuem à crise económica.
Agora a crise económica serve para tudo. Não tenhamos medo da verdade. Nem no tempo colonial isto acontecia. Ao fim de quase 42 anos de independência, 15 de paz total, o regime do MPLA (que está no poder deste 1975) nem consegue resolver o problema deste tipo de… carteiras.
A única coisa que sabe fazer como ninguém é rechear as suas próprias carteiras. É estar no top dos países mais corruptos do mundo, é não ter vergonha de ter, por exemplo, um ministro acusado de ter sido comprado por 20 milhões de dólares pela construtora brasileira Odebrecht.
A directora da Educação do município de Luanda, Joana Torres, tem a lata (sabemos que se limitou a divulgar as “ordens superiores”) de apontar a crise que afecta Angola desde finais de 2014 como o grande entrave na materialização das acções, num dos mais populosos municípios do país, com mais de um milhão de habitantes.
“Neste preciso momento, o município de Luanda precisa de 20.000 carteiras. E porque este ano, no nosso quadro resumo, não vem dinheiro para comprar carteiras, a situação estará condicionada. Não há liquidez financeira atendendo à situação que se vive agora no país, mas estamos a fazer tudo para que este quadro mude”, apontou, tentando passar-nos mais um atestado de matumbez.
Na terça-feira foi notícias que alunos da escola primária 1127, no distrito urbano do Sambizanga, no centro de Luanda, assistem às aulas apoiando o caderno no joelho ou na parede, precisamente devido à falta de carteiras.
A escola lecciona em dois turnos, deste a iniciação ao sexto ano, e tem oito salas de aulas com a maior parte das carteiras danificadas, cenário que se repete por vários estabelecimentos escolares de Luanda, como relatam os professores.
Joana Torres afirmou estar a par da situação e admitiu tratar-se de um cenário que se regista em “grande parte das escolas de Luanda”.
Numa turma com mais de 45 alunos, na escola 1127, grande parte dos mesmos partilham as poucas cadeiras que ainda resistem ao tempo, mas o recurso ao joelho ou à parede para anotar os apontamentos dos professores é um exercício diário e sobretudo doloroso, conforme relatam os alunos.
“Escrevo apoiando no joelho porque não há carteiras e nem sequer consigo escrever em condições. Dói muito o joelho e as costas e é assim todos os dias. Os outros colegas quando estão cansados apoiam também na parede”, explica Euclides Mateus da terceira classe.
Situação semelhante é narrada por Larissa do Rosário, que confessa chegar a casa todos os dias “com dores nas costas e no joelho”.
De acordo com Joana Torres, a situação porque passam os alunos da 1127 “é lamentável”, porém augura por dias melhores. Só lhe faltou dizer que esses dias melhores dependem da vitória do MPLA nas próximas eleições. Já agora…
“É normal que tenham essas dores em função das más posturas que eles vão tomando durante as aulas, mas temos contactado os pais e encarregados de educação, só que a situação não está fácil. Eles também nos têm ajudado muito nessa situação, mas melhores dias virão”, rematou.
O ano lectivo de 2017 em Angola arrancou oficialmente a 1 de Fevereiro, com quase 10 milhões de alunos nos vários níveis de ensino, decorrendo as aulas até 15 de Dezembro.
Reclamando melhores condições de trabalho, além de aumentos de salário, os professores em Luanda, e um pouco por todo país, paralisaram as aulas entre 5 e 7 de Abril, greve interpolada que deve ser retomada no final deste mês e depois em Junho.
Folha 8 com Lusa